Cooperação Internacional em Crise

A Cooperação Internacional para o Desenvolvimento passa por um momento crítico. O que começou como um projeto de combate a pobreza, de fomento do desenvolvimento sustentável, enfim de solidariedade global está sendo desmontado, instrumentalizado e deslegitimado.

Deslegitimação, Geopolitização e Novas Tendências da Cooperação para o Desenvolvimento

Luiz Ramalho, Abril 2025

Entwicklungspolitik in der Krise – Delegitimierung, Geopolitisierung und neue Tendenzen der internationalen Zusammenarbeit

Introdução

A Cooperação Internacional para o Desenvolvimento passa por um momento crítico. O que começou como um projeto de combate a pobreza, de fomento do desenvolvimento sustentável, enfim de solidariedade global está sendo desmontado, instrumentalizado e deslegitimado.

Três tendências principais marcam essa transformação:

  1. A deslegitimação política e midiática da cooperação internacional
  2. Sua crescente instrumentalização geopolítica
  3. Novas dinâmicas globais com atores emergentes desafiando o modelo tradicional

Deslegitimação da Cooperação Internacional

  • Críticas crescentes do Sul Global contra práticas consideradas neocoloniais.
  • Na Alemanha, aumento da pressão para alinhar a cooperação aos „interesses nacionais“.
  • Narrativas populistas ganham espaço:
    • „O dinheiro dos impostos deve ficar aqui!“
  • Opinião pública cada vez menos favorável à cooperação.

Geopolitização da Cooperação

  • A cooperação é usada como ferramenta de poder:
    • A UE usa recursos de ajuda para controle migratório.
    • Trump desmantela a USAID – cooperação vira assunto secundário.
    • A China assume papel de „superpotência do desenvolvimento“ com projetos de infraestrutura e créditos.
  • A lógica da segurança, do acesso a recursos e da contenção migratória orienta políticas antes voltadas à redução da pobreza.

Novas Dinâmicas Globais

  • A ascensão dos BRICS+ desafia as regras tradicionais da cooperação.
  • O Sul Global exige mais autonomia, protagonismo e rejeita condicionalidades ocidentais.
  • A Cooperação Sul-Sul cresce em importância e influência.
  • Competição geopolítica transforma o campo da cooperação em terreno de disputa estratégica.

Caminhos para uma Cooperação Renovada

a) Transparência e Honestidade

  • Reconhecer os próprios interesses – mas sem hipocrisia.

b) Parcerias Horizontais

  • Fortalecer atores locais e valorizar o saber dos territórios.

c) Defender o Multilateralismo

  • Construir novas regras globais em conjunto.

d) Disputar o Debate Público

  • Enfrentar as narrativas populistas com argumentos sólidos.

Conclusão

Estamos diante de uma encruzilhada histórica: Queremos uma cooperação internacional a serviço da solidariedade e do desenvolvimento sustentável? Ou vamos aceitar que ela se transforme em mero instrumento de poder geopolítico?

O futuro da Cooperação Internacional dependerá da nossa capacidade de construir parcerias verdadeiras e de defender os valores que justificaram sua criação.

 

Resumo em 5 pontos — Português

  • Deslegitimação da Cooperação Internacional:
    A cooperação é cada vez mais questionada — acusações de desperdício, colonialismo e ineficácia ganham espaço, enquanto o apoio popular diminui.
  • Instrumentalização Geopolítica:
    Recursos da cooperação são usados para controle migratório, acesso a recursos naturais e influência política — a redução da pobreza fica em segundo plano.
  • Novas Dinâmicas Globais:
    BRICS+ e Cooperação Sul-Sul desafiam o modelo ocidental — países do Sul exigem autonomia e parcerias horizontais.
  • Crise do Multilateralismo:
    Interesses nacionais ganham força — instituições multilaterais e agendas globais (como os ODS) perdem espaço.

Caminho Futuro:
A cooperação precisa se renovar — mais transparência, fortalecimento dos atores locais, defesa do multilateralismo e compromisso com a solidariedade global.